quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Povo da Fúria

Sou fã incondicional de Forgotten Realms. E a transição de 3.5 para 4.0 foi fantástica. Agora vou iniciar um processo longo, mas beeem longo mesmo para que vejam como eu vi esta transição. Sejam bem vindos a história: Povo da Fúria.

Livro Um


Faces e Sombras
Cápitulo I

Caminhos do Inverno

Os bosques de Rashemen dançam com a força do vento gélido que vem anunciar a chegada do inverno. As copas das árvores respingam gotas de orvalho congeladas que seguem seu caminho no ar seguidas pelas folhas que se desgarram de seus  ramos. Aos poucos a figura do bosque caduco começa a mudar, dando uma forma mais sombria a um local agora belo, de folhas alaranjadas e galhos secos de fim de outono.
Ao final da semana provavelmente o pequeno cervo que encontra abrigo entre alguns galhos e arbustos, não encontrará tão facilmente um local para se esconder. Difícil também será sua procura por alimento e isso motiva seu instinto migratório em direção ao sul em busca de calor.
Nesse trajeto sua jornada não será solitária. Vários outros de sua espécie se juntam ao caminho. O aumento significativo do rebanho garante a sobrevivência da maioria do seu grupo. Pois costeando seu caminho vários predadores famintos os seguem em busca de presas fáceis que irão sumir ao longo do inverno que se anuncia de forma implacável.
Não apenas lobos, ursos e leões da montanha seguem os cervos. No alto de uma colina, caçadores mais ferozes e perigosos observam os animais.
Homens de Rashemen, de cabelos longos e negros que caem sob suas feições cheias de cicatrizes. Estes caçadores de pele delgada oculta por uma enorme gama de trajes de pele especialmente confeccionados para protege-los do clima e do ambiente hostil da Floresta Ashenwood, seguem cautelosamente o agrupamento de cervos. Eles procuram por alimento. Todo ano os melhores caçadores da aldeia de Taporan saem em bandos de seis a dez pessoas, todas geralmente pertencendo a um único clã.
Divididos, eles saem por caminhos diferentes e procuram trazer para casa antes da chegada do inverno o máximo de provisões possíveis.
Normalmente acompanhando estes grupos de caçadores experientes se encontram um número razoável de jovens. Essa normalmente é sua primeira caçada e seus feitos já servem para serem contados a beira de fogueiras para as crianças da aldeia. Mas mais do que tudo fazem parte da preparação de um ritual.
Dajema.
O ritual de passagem da adolecência para o mundo adulto. Assim seria descrito de uma maneira simplória um dos mais sagrados deveres de Rashmem. O dajema testa a individualidade do jovem, sua perspicácia, aptidões e acima de tudo a capacidade dos garotos virem a se tornar bravos guerreiros. Outrora este costume já foi muito diferente, enviando os filhos de sua terra para lugares distantes em busca de aventuras e grandes conquistas. Mas hoje a maioria dos jovens realiza seu ritual dentro de suas próprias fronteiras.
Diferente de outras culturas do mundo de Faerun, o país de Rashemem e seu povo não faz distinção entre os sexos. Com isso tanto meninos como meninas partem todo ano, antes do inverno chegar, anciosos para provarem seu valor e voltarem vitoriosos com a realização do dajema.
Com passos calmos e silenciosos, Toul e Jekita se afastam um pouco de seu grupo. Antes de desviarem de seu caminho, pediram e foram concentidos pelo olhar atento do líder do clã que adivinhara os planos do garoto.
Toul ficou satisfeito com a compreensão de Mulin, o líder do clã e mais velho caçador do casa do Lobo. O caçador tinha longos cabelos negros acompanhados de fios acinzentados que denotavam sua idade presos em um rabo de cavalo. Seu rosto era enrugado mas sua feição era austera. Ele era um dos homens mais respeitados de Tapuran. Além de hábil caçador era um guerreiro respeitado. Mestre no uso da lança, o líder do grupo de caça da pequena aldeia trazia em suas costas o peso de muitas lendas contadas a seu respeito. Poucos ousavam desafiar o velho e quando o faziam possuíam certeza absoluta de que seriam protegidos de sua ira pelas bruxas.
Com o pensamento de que uma pessoa tão importante havia entendido seu plano Toul acenou para sua prima e esta passou a segui-lo.
Jekita passou os olhos sob o dorso de seu primo e admirou o jovem. Toul estava com dezesseis anos, mas já possuía o corpo de um guerreiro experiente, bem definido e musculoso. Não era muito alto, talvez um metro e setenta, mas possuía em si um vigor sem igual. O anseio da juventude estava estampado em seus gestos. A vontade de descobrir e mudar o mundo moldava o jovem. Esse sentimento até parecia mais um acessório que junto com seu gibão de pele de alce, que lhe cobria o dorso, o deixavam maior do que na realidade era.
O jovem de cabelos escuros como breu os possuía preso por uma faixa que lhe cobria a testa e deixava a mostra seus cativantes olhos castanhos. Da cor do mel que as abelhas cultivam no chegar da primavera, o olhar do jovem traduzia além da beleza, desejo e anseio.
Toul moveu-se rapidamente se dirigindo pela encosta que margeava a colina e escorregou para um lado paralelo que acompanhava o rebanho de animais.
Assim que alcançou o novo nível e acobertado pela altura da colina o jovem apressou o passo, mas ainda assim tomando cuidado para não alertar os animais de sua presença.
A bela jovem, de cabelos castanhos e olhos verdes, prima de Toul, não possuía a mesma calma e paciência de seu primo, mas era esperta e perspicaz o suficiente para entender o plano do jovem. Com seu corpo perfeito e rijo se deslocou com uma graça felina e de um único salto já se encontrava no encalço de Toul.
Ambos possuíam lanças nas mãos direitas, escudos de madeira na esquerda, pequenas espadas embainhadas na cintura e uma adaga cada um, amarrada em suas pernas. Eram suas armas e foram dadas pelo ferreiro da aldeia. Todos os quinze jovens que iriam realizar o dajema ganharam o mesmo kit de armas. Nenhum deles precisou pagar nenhuma peça de ouro pelas armas, mas como de costume não teriam direito a nenhum de seus espólios de caçadas. Toda pele e carne que conseguiriam seria dada como compensação pelo trabalho do forjador. Mais uma das tradições de Rashemen.
O plano de Toul era simples, ele observou que a colina possuía a forma de um semi círculo e acompanhava a planície pela qual se deslocava o rebanho dos cervos. Calculando mentalmente a distância, Toul imaginou que se apresasse o passo chegaria até o outro lado da colina sem ser visto pelos animais. Do outro lado poderia se pocisionar e emboscar os animais desavisados que marchavam em sua direção, estes obviamente tentariam fugir retornando o caminho mas iriam encontram o grupo de caça de Mulin em seu encalço. Na verdade o líder do grupo já imaginava esta fácil estratégia mas deu tempo para que algum dos jovens tomasse a iniciativa. Quando Toul deu sinais do que pretendia fazer, Mulin não se surpreendeu, ele imaginava que o filho de seu melhor amigo não iria decepciona-lo. Jurimik sempre se orgulhava de ser um grande caçador, mas nunca quis uma vida de aventura ou perigos e com isso resolveu logo cedo juntar algumas peças de ouro para abrir seu pequeno negócio na aldeia de Tapuran. O pai de Toul era o dono da taverna da aldeia e isso sempre lhe garantiu uma certa facilidade, que o jovem não apreciava. Toul queria se tornar um guerreiro, um furioso de batalha e diferente de seu pai queria dispor de grandes feitos.
Ele passou muitas noites sonhando com seu dajema e hoje iria aproveitar todo o dia. Iria chegar em casa trazendo o maior número de caça. Era o que esperava. Era onde seus pensamentos estavam.
Sua prima já não sonhava tanto, ela queria acabar logo com o dia e realizar seu ritual de passagem e se tornar uma mulher valorosa e respeitada em Tapuran. Ela mantinha seus olhos atentos e seguia de perto seu primo. Mas algo chamou sua atenção. No canto de seu olho uma sombra se mecheu rapidamente, quase imperceptível, mas o suficiente para chamar sua atenção. Desviando seu olhar Jekita procura por entre os arbustos o motivo de sua apreensão, e repentinamente seus olhos descobrem escondido entre as moitas um enorme animal de pelos castanhos e músculos rigos.
Enormes garras saltam de trás da mata e trazem a frente um enorme urso pardo.
-Toul!
O aviso de Jekita foi a tempo. Com um movimento rápido o jovem guerreiro se lançou para trás bem no momento em que o enorme animal investia em uma mordida devastadora.
As presas do urso não encontraram nada e a enorme besta enfurecida ergue-se nas patas traseiras em postura ameaçadora rugindo alto e forte.
O urro da fera é forte o suficiente para ser ouvido pelo rebanho de cervos que assustado acelera o passo e inicia uma desembalada fuga. Os caçadores de Taporan imediatamente reconhecem o som que vem da floresta, e imaginando o pior iniciam uma corrida em direção até onde os jovens primos se encontram.
Trazendo sua lança à frente de seu corpo, Toul mantém o urso afastado, conseguindo se proteger, enquanto sua prima cuidadosamente se pocisiona no flanco do animal.
O enorme predador no entanto percebe o plano dos jovens e com uma agilidade sobrenatural, se volta para onde se encontra a garota e lança uma patada mortal que por, apenas sorte, erra o rosto da guerreira, que com puro reflexo, desvia seu corpo no último segundo do golpe fatal.
O jovem aproveitando que o urso se distraiu com a presença de sua prima, desfere um golpe com sua lança no enorme animal. A lança perfura fundo a couraça do animal que solta um berro de dor. Assim que ele se volta para o jovem, Jekita aproveita a mesma chance e crava sua lança com toda sua fúria. A arma atravessa o corpo do animal que acaba por cair sem vida.
Quando o grupo de caçadores liderados por Mulin chega ao local encontra os jovens arfando freneticamente sobre o corpo da fera derrotada.
Por um instante a um breve silencio, e no instante seguido  é irrompido por uma ovação dos guerreiros de Taporan. Mulin, menea a cabeça em sinal de aprovação e os dois jovens sabem em seu coração que agora palpita acelerado que acabaram de passar pelo dajema.
No dia seguinte quando acordarem em suas tendas serão adultos. Guerreiros de Rashemen. Prontos para protegerem as bruxas.
A primeira etapa de suas vidas acabara de ser testada e aprovada. Mal podiam acreditar no seu feito. Ambos esperavam apenas caçar cervos, tentando abater o maior número deles para levar como troféu, mas acabaram por ter de enfrentar e derrotar uma das maiores feras dos bosques da terra dos furiosos.
Apesar do feito Mulin coloca aos jovens que a carne de urso não é muito agradável e todos iniciam nova corrida atrás do rebanho de cervos.

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