sábado, 19 de março de 2011

Povo da Fúria - Capitulo 4 - sequência 1

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Capítulo 4

Tratado e Trapaça

                A pequena gaiola arcana era magicamente adaptada para se encolher conforme os movimentos do prisioneiro. Por isso faziam horas que o homem não se movia. A dor por ficar imóvel daquele jeito deixava o corpo do jovem arcano tenso e dormente. Enquanto o tempo passava ele observava a movimentação das bruxas com interesse e desconfiança.
                Os olhos do thayano percorreram o acampamento e observaram que apesar de serem apenas seis as bruxas as precauções mágicas tomadas eram equivalentes a de um conclave de magos.
                Ninguém coseguiria detecta-las com facilidade, muito menos se aproximar delas, sem que elas assim desejassem. Esse raciocínio fez com que o arcano pressumisse que elas estariam sempre sendo caçadas, provavelmente pelas hatrahs, como seu senhor havia lhe falado.
O jovem mago cruzou olhares com as duas sentinelas mascaradas confinadas a vigia-lo. E embora ele não pudesse ver um único traço de seus rostos, além das esferas escuras que deveriam ser seus olhos protegidos pelas máscaras, ele tinha certeza que as faces impregnavam ódio e desprezo.
Na verdade esse sentimento era mútuo, mas a posição em que o mago se encontrava forçava-o a um olhar de submissão e piedade o que o incomodava e humilhava profundamente.
Pacientemente o prisioneiro começou a refletir como seria seu encontro a seguir, o que ele havia proposto aos gritos desesperado para as bruxas havia alcançado seu objetivo. Pois elas seguraram seus feitiços destrutivos no último instante. Permitindo que ele sobrevivesse.
Seu mestre lhe instruiu bem, ele pensou consigo, o que quer que sejam estes “vremyonnis” ou “antigos” exerciam grande facínio sobre elas. E o simples fato dele ter mencionado que seu mestre conseguiria fazer com que eles as servissem fez com que houvesse espanto e alvoroço entre elas.
Obviamente o grupo apesar de desejar exterminá-lo de todo coração, considerava a proposta preciosa demais para ser desperdiçada. Mesmo nas mãos de um inimigo poderoso como um arcano vermelho. Era visível também que elas não tinham como decidir tudo por conta própria, tamanha foi a sucessão de discussão que se seguiu entre elas. Não fosse a ameaça de morte certa caso um movimento seu fosse feito, Ikal teria tentado usar uma magia para descobrir o que elas diziam naquele dialeto estranho.
Mas o mais certo que aconteceu foi que elas decidiram que ele era importante. Que valia alguma coisa, pois elas lhe pouparam a vida e o fizeram prisioneiro. Coisa rara entre rashemis e thayanos.
O grupo se encontrava em uma clareira rodeada por enormes samambaias e árvores e arbustos densos, praticamente nenhum raio de luz solar conseguia adentrar aquela parte da floresta naquela manhã. Ikal se perguntava se isso era natural ou parte dos feitiços de proteção das belas feiticeiras mascaradas.
Repentinamente as damas se puseram de pé. Esquecendo de sua presença, elas se pocisionaram em círculo. Era evidente que alguém estava chegando. Quando outras três bruxas se materializaram, Ikal suou frio ele sabia que seu futuro estava para se decidir.
Duas delas eram evidentemente serviçais, guarda-costas talvez, mas a central, era a líder com certeza. Armada de um cajado longo de bronze encrustrado de diversas gemas preciosas, ele terminava em um globo vermelho reluzente. Suas vestes eram coloridas mas com um verde predominante, completado por bordados dourados que lembravam raízes.
Os desenhos se estendiam pelas vestes de todo o magnífico corpo da mulher, menos nas botas, luvas e capa lilás. Os cabelos longos e esvoaçantes dela brilhavam mesmo sem encontrar um único facho de luz, e por minutos Ikal desejou ardentemente poder vislumbrar seus olhos.
Quando a voz angelical da encantadora mulher surgiu, seus olhos praticamente o denunciaram tamanho foi a admiração que ele sentiu por sua captora.
- Ouça bem mago. Nunca em toda minha vida ouvi um único relato parecido com o que esta acontecendo agora. E apenas através do desejo dos deuses isso talvez aconteça de novo. Por isso vou ser direta. Desembuche o que sabe e talvez eu deixe que sua morte não seja lenta nem dolorosa.
Os olhos de Ikal se atrofiaram, e o homem calculista e frio criado no inferno que era a terra de Thay assumiu o controle da mente do mago. Pensando rapidamente ele brincou com as palavras o melhor que pode, tentando não revelar que ele próprio realmente não sabia e principalmente fazendo com que a bruxa se interessasse pelo assunto.
- Meu mestre é um arcano poderoso em Thay. Através de espiões ele descobriu a divisão interna ocorrida entre vocês tão bem guardada de seus inimigos e de seu povo. – o arcano sibilou calmamente com os olhos vidrados no rosto da maga superior.
- Até ai nenhuma novidade mago. Qualquer olho perspicaz pode ver essa divisão, e com certeza contra Thay nenhum dos dois lados vai fazer firula para não lutar. – a resposta soou rápida e cortante.
- Acredito. Mas a verdade é que meu mestre esta ansioso para dividir o poder em Rashmen. Ele descobriu detalhes sobre os Antigos desconhecidos pelas senhoras. – Ao citar as bruxas Ikal fez uma reverencia de serviçal ante a mulher a sua frente.
- Seu tempo esta passando, nada de útil foi dito e minha paciência esta se esgotando. Sugiro que a próxima vez que abrir a boca fale algo de útil, mago. – O tom ameaçador mudou completamente a voz da mulher, e Ikal encolheu-se dentro de sua prisão mágica tendo a certeza de que seu próximo ato seria a morte. Ele respirava devagar, tentando controlar seus pensamentos e seu corpo que ardia praticamente dormente devido aos movimentos mínimos que realizava. Sabendo que nada do que tinha iria satisfazer a bruxa ele realizou uma manobra desesperada. Sem saber ao certo o que ou quem eram os Antigos, Ikal Tekish testou sua sorte:
- Meu mestre encontrou uma maneira de os Antigos servirem as senhoras. – essa afirmação absurda era fruto do desespero total de Ikal, mas o que ele não sabia é que era exatamente isso que Ilmok acreditava. A chave do poder de Rashmen se encontrava durante todos esses anos no poder dos vremyonnis, e ele encontrou algo que poderia ser usado contra eles.
Ilmok queria mais do que qualquer coisa se promover em Thay. A busca do poder era constante e sua descoberta poderia coloca-lo acima de todos em seu país. Mas ele não poderia se arriscar, nem em um encontro direto com as bruxas que poderiam acabar com ele, muito menos confiar suas descobertas a um superior, e claro nem mesmo a um serviçal.
Os aprendizes que ele mantinha não eram nada mais do que peões descartáveis, mas eram seus subordinados e como tais possuíam acesso a algumas informações e conheciam a personalidade de seu mestre e vice-versa.
Quando o transmutador optou por mandar seus aprendizes para fazer o contato com as bruxas ele sabia que Ikal deveria ser o primeiro, por sua astúcia e motivação, mas principalmente pela dupla personalidade que dominava o aprendiz. Ele tinha certeza que o jovem iria conseguir o que ele queria, mas era preciso sua obediência, pois Ilmok, conhecia também os desejos secretos do aprendiz. E ele precisava ser desencorajado. Com isso o mago especialista optou por sacrificar três servos estúpidos, evidentemente no inicio se criou um clima de desconfiança entre os aprendizes pois o primeiro a ser enviado na missão era um completo inútil que nem para limpar chão servia. Mas com o tempo passando e outros dois sendo convocados o clima mudou entre os jovens estudiosos. E então quando chegou a vez de Ikal o mago pode ver pela reação dos olhos do jovem que seu plano dera certo. O aprendiz estava mais preocupado em cumprir a missão e retornar vivo do que descobrir seus detalhes.
Ikal estava frente a bruxa esperando pelo seu fim, ele começava pequenos movimentos, pois iria lançar um contra-feitiço. Sim o jovem iria morrer, mas iria dar tudo de si para levar consigo alguma delas.
- Como? – Ela perguntou com curiosidade.
Ikal abaixou a cabeça para que ela não notasse sua surpresa e pensando rapidamente emendou.
- Infelizmente eu não sei dizer. Tudo o que devo fazer é promover seu encontro com meu mestre em um campo neutro. – Agora o jovem passou a dizer a verdade, mesmo sem ter muita certeza dos planos de seu mestre, Ikal acertara quanto ao desejo das bruxas. Os Antigos deveriam ser muito importantes. Sua mente voltava a pensar em si próprio.
- Onde?
- Montanhas Presas do Dragão. Nos salões da comunidade gnomica de Ambruel.  Ambos devem se teleportar até a taverna Túnel de Rato, e adentrar metamorfoseados de gnomos, o grupo das senhoras de azul e os de meu mestre de vermelho.
- Como posso saber que não é uma emboscada.
- A senhora não pode. – Ikal fitou a bruxa nos olhos. Ele percebeu que havia ganho seu respeito.
- Muito bem. Vá e diga a seu mestre que dentro de duas luas nós nos encontraremos no local proposto. Você tem apenas o tempo de ler seu pergaminho mago. Nada mais. – Com um gesto a mulher livrou Ikal de sua prisão. E embora nenhuma das mulheres tivesse feito nenhum sinal ameaçador, o mago correu até sua bolsa de encantamentos e leu o pergaminho de teletransporte.
No instante seguinte ele desapareceu. As bruxas ficaram observando o ar vazio onde antes se encontrava o arcano e permaneceram em longo silêncio até que uma delas o interrompeu.
- Você vai confiar neles, minha senhora?
- Não. Mas pretendo descobrir o que o arcano sabe. Se for de interesse vamos articular um plano para desfrutarmos do que vamos descobrir da melhor maneira possível.
- E quanto aos arcanos?
- Não se preocupe. Isso é trabalho de alguém isolado de poder menor que tropeçou em alguma informação importante tentando se projetar. Se fosse um plano dos zulkires esse contato nunca teria acontecido.
- E o jovem arcano. Ele parecia não saber o que dizia.
- E não sabia. Ele foi usado para fazer contato conosco. Um bom plano devo confessar. Quem esta por trás do aprendiz deve estar ávido por poder, para ser tão incauto. É uma pena pelo jovem mago. Ele tinha personalidade.
- Você pretende destruí-lo? – A pergunta da bruxa guarda-costas saiu com uma satisfação da qual ela não podia conter.
- Não será preciso. É evidente que quem o enviou pretende fazer isso. A falta de informações do jovem revelou isso. Afinal, ninguém em Thay apoiaria essa aliança e quanto menos pessoas saberem disso melhor será para o imbecil que enviou este jovem emissário. O destino do garoto já estava selado por seu senhor a tempos. Agora é hora de nos prepararmos para selar o destino desse mago atrevido.
A mulher se virou e com um simples gesto atravessou uma porta que se abriu em pleno ar. Por trás das mascaras as outras mulheres sorriram de satisfação e elevaram seus bastões, cajados e varinhas ao ar cantando canções de glória .

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