Dois dias tinham se passado sem que Toul tivesse tido qualquer notícia de seu pai. Isso o estava angustiando, alguma coisa não estava certa e a certeza vinha do comportamento de Mulin. O líder do clã fugia do jovem cada vez que este o avistava e isso estava acabando com ele. Até mesmo Jekita que a princípio não tinha dado importância estava preocupada com o sumiço do tio.
A jovem também já havia observado o comportamento do chefe da Casa do Lobo e rapidamente ligou as coisas. Ela adentrou a sede dos guerreiros e desconfiada confirmou seus temores ao adentrar a sala de troféus do clã. A enorme pele do animal abatido pelos primos não se encontrava mais em seu local. Para Jekita apenas uma pessoa poderia ter pego e apenas uma pessoa poderia ter autorizado o ato.
Inconformada a princípio com o ato de seu tio, Jekita poderou a situação e os atos de seu mentor e resolveu dar-lhe uma chance para se explicar. No entanto a atitude de Jurimik com certeza iria levar seu primo a loucura. E isso poderia acabar mal. Foi baseada em seu bom coração e nesse pensamento que a bela bárbara resolvera ser cúmplice de seu tio. Ela passou a ajudar o jovem com as obrigações da taverna e o mantinha ocupado com longas conversas sobre como sua vida mudaria em breve quando os dois partiriam para Immilmur.
Sempre que Toul resolvia questionar o sumiço de seu pai e o comportamento estranho de Mulin a jovem respondia de forma enfática de que o que ele sentia a respeito de Mulin deveria ser impressão do gartoto, quanto a Jurimik ele provavelmente deveria ter ido buscar provisões pessoalmente.
Mas a verdade é que a jovem acabou por começar a ficar sem argumentos e na noite do terceiro dia nem ela mais estava satisfeita com seu próprio comportamento.
Na manhã seguinte ambos iriam partir e com certeza muitos invernos iriam se passar antes de que todos pudessem se ver novamente. O ato de seu tio começou a lhe revoltar e ela começou a acreditar que seu mentor resolvera fugir com o que era o troféu por direito de toda Taporan, visto que ambos os jovens resolveram doar seu prêmio para a aldeia.
Jekita resolveu esperar até o sol sumir por trás do Tir para ir falar com Toul.
A espera não precisou ser tão longa.
Um tumulto no ancoradouro fez com que muitos aldeões de Taporan corressem até o local para ver o que estava acontecendo. Dentre eles Toul já se dirigia a passos largos intrigado pela figura que se levantava no ancoradouro.
Jekita observou seu tio ao longe e voltando seu olhar para a Casa do Lobo notou as expressões de alivio do líder Mulin. Isso realmente a deixou intrigada. Mas era a hora dos esclarecimentos. E conhecendo seu tio e seu primo a presença dela seria necessária na conversa. Ela saltou para fora da taverna e expulsou os clientes que saíram resmungando e praguejando. Rapidamente fechando o estabelecimento ela correu até o ancoradouro, mas foi barrada pela multidão que cercava o taverneiro. Ela forçou caminho por entre as pessoas e finalmente chegou a tempo de encarar a cena.
Jurimik se encontrava de pé com um olhar cansado. Parecia que seu tio havia envelhecido anos, a frente dele em meio ao semi-círculo de curiosos se encontrava Toul, quase tão alto quanto o pai, com uma expressão séria e calado.
Os olhos do jovem se encontravam fixos na embarcação do pai, pois ele observava o estranho emaranhado de peles cor de esmeralda. Jekita não demorou muito para notar a mesma coisa e arfou estupefada, pois a jovem deduzira que seu tio deveria ter estragado as peles. Provavelmente Toul iria arrancar o coro do taverneiro ao descobrir isso e a jovem já não estava tão certa se ela pretendia impedir ou ajudar seu primo.
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