As irmãs gêmeas adavam alegremente pelas ruas de Immilmur se deliciando com as expressões de respeito vindas da comunidade que fazia reverencia para as jovens enquanto elas moviam-se graciosamente entre eles.
As duas já haviam recebido suas máscaras e deliciavam-se com o fato de se vestirem absolutamente iguais e causar além de respeito um certo temor nas pessoas, que olhavam para elas intrigadas. Afinal ninguém sabia sobre a verdadeira identidade das garotas, então não era difícil para o povo acreditar que uma das jovens era uma cópia da outra através de alguma magia ilusória.
Mas o povo de Immilmur estava acostumado com as extravagâncias de suas soberanas e sempre se rendiam as bruxas com sorriso, afinal, tanto faz que novo feitiço elas estivessem usando, nunca seria para ferir o povo.
Ambas estavam aproveitando os últimos momentos como pessoas comuns, pois no dia seguinte iriam ser apresentadas aqueles que seriam seus braços direitos, os guerreiros rashemis que fariam parte de suas vidas como o sangue que corre em suas veias.
- Como você acha que eles vão ser? – perguntou Anna com um sorriso sarcástico em seus lábios carnudos e vermelhos.
- Imagino que serão dois dos mais bravos guerreiros, claro que sem cérebro. – ironizou Luthy, e ambas as irmãs gargalharam alegremente.
- Ouvi dizer no internato que as senhoras estão preocupadas com coisas estranhas que andam acontecendo.
- Sim, algo como espionagem. – Luthy disse sussurando, como se estivesse falando um segredo. Anna apenas concordou com a cabeça.
- Arcanos Vermelhos? – ambas perguntaram em únissomo, e concordaram em seus vívidos olhos azuis.
- Que outra coisa poderia preocupar as irmãs se não estes arcanos estúpidos? – Anna acrescentou enquanto ambas avançavam pelas ruas e passavam por uma irmã-bruxa, elas fizeram o cumprimento subversivo das castas e respeitosamente passaram uma pela outra.
A bruxa que passou pelas irmãs, parou em seguida e as observou. Ela reconheceu de imediato a presença de recrutas. Por baixo da máscara a mulher sorriu pensando consigo mesmo em como seria fácil acabar com o poder das hatrans apenas acabando com suas recrutas.
Mas ela não tinha tempo para isso agora, estava em uma missão importante para sua senhora, ela não tinha tempo a perder. Adentrando no templo de Mystra a deusa da magia, a jovem sorriu quando viu a sua frente, várias sacerdotizas em seu ritual diário de orações. Ela observou o altar a sua frente na capela principal e procurou com os olhos o que precisava. Então localizou em um canto da sala, e silenciosamente fez seu longo vestido amarelo-avermelhado esvoaçar pelo templo.
As gêmeas subiram até as muradas que protegiam a cidade e admiraram as áreas selvagens que se encontravam ao redor de Rashmen.
- Você acha que um dia partiremos em alguma grande missão através dos Reinos? – Luthy perguntou excitada.
- Acredito que sim, embora deva confessar que isso não iria mudar o que sinto. Por mim protegeria nosso povo de dentro de nossas muradas, mas sim, acredito que várias vezes teremos de cruzar os portões que protegem nossa cidade. – Anna falou sem tirar os olhos do horizonte.
- O que você vê?
Essa pergunta sempre incomodava a adivinha, desde que suas habilidades mágicas haviam se encaminhado nessa escola, a irmã a usara para se beneficiar em diversas vezes de seus dons. Anna sempre se entristecia com isso, mas seu dom também era sua maldição, ela própria não conseguia se conter, ela fechou os olhos e se concentrou.
Aos poucos formas enevoadas foram se formando ao redor do corpo da jovem, formas que só eram perceptíveis a jovem. Ela não conseguia identificar ao certo o que se formava, até que repentinamente os olhos vívidos de um bravo jovem se encontraram a frente e atrás dele, lá estava ela. Com sua máscara, e com seus olhos fixos no corpo altivo do guerreiro. Ela saiu de seu transe com um sorriso, e disse:
- Meu guerreiro será um belo homem. Jovem e muito forte. – O tom de voz da jovem quase entregou a sua irmã um estranho sentimento.
- E o meu? – Luthy apressou-se em perguntar.
Mas antes que Anna pudesse responder qualquer coisa a sua irmã, uma explosão veio da área onde se encontra o templo de Mystra. Algo muito grave aconteceu, pois em segundos as irmãs puderam ouvir os clarins de alarme tocando em cada canto de sua amada cidade.
Alarmadas elas se viraram na direção que focava o centro das atenções dos habitantes da capital, e constataram que algo deveria ter acontecido no templo de Mystra, a deusa da magia.
Sem pestanejarem as irmãs se apressaram em direção ao local sagrado que fervilhava com uma aglomeração fora do normal de bruxas e guerreiros furiosos.
Impedidas de adentrar ao templo por guardas postados do lado de fora as jovens de nível inferior, tiveram de se contentar em observar o local ao longe.
Especulando o que poderia ter ocorrido, ambas chegaram a um veredicto: Arcanos Vermelhos de Thay.
O mesmo pensamento incorreu pela mente de qualquer espectador em Immilmur, mas a apreensão que se desenhava sob as máscaras das hatrans e de seus parceiros bárbaros pareciam não ter a mesma certeza.
Risvita que encontrava-se próxima ao tumulto também estava bastante impressionada e respirando fundo adentrou o interior de uma cabana escura e abandonada, tentando fugir de tudo e de todos. Em outro local Jurytala, ouviu a explosão e correu na direção mais oposta que pode. Parando em uma janela em um parapeito a jovem respirou pesadamente, tentando recuperar o fôlego do susto que a explosão lhe causara.
De sua sacada o Lorde de Ferro, observava a cena com interesse especial, a seu lado se encontrava uma mulher de vestes coloridas, com uma longa saia rosada e entrecortada deixando ver suas pernas belas e torneadas ao vento. Ela segurava um cajado de ponta de ferro imitando um punho cerrado, e usava uma mascára preta e branca a qual revelava apenas a parte inferior esquerda de seu rosto, deixando a mostra metade dos belos lábios rosados de uma mulher de beleza intoncável.
O homem apreciou a mulher por um instante, mas em seguido perguntou, sua voz saiu alta e imperativa, com orgulho e altivez, que fizeram a jovem sacerdotiza hatran estremer.
- O que esta acontecendo Ilza? A movimentação em torno do templo e esse ataque estranho não parece ser uma ação comum de nossos vizinhos. Há tempos ando observando os comportamentos de vocês, hatrans, e desconfio que existe algo que vocês não estão querendo que o povo saiba. O que é?
A pergunta direta e franca do Lorde, atingiu a jovem sacerdotiza como um soco no estomago, e ela teve que raciocinar com calma para não revelar mais do que o necessário.
- As hatrans andam sofrendo uma crise interna, meu senhor, mas nada que se compare com isso ou que seja de seu alarme. O que aconteceu aqui com certeza foi um ato de nossos inimigos.
- Não tenho dúvidas disso, Ilza. Mas minha pergunta é: que inimigos? Suas barreiras mágicas enfraqueceram? Os arcanos estão conseguindo adentrar facilmente nosso reino? Não. Acredito em algo diferente. Fale-me mais sobre sua crise. Tem certeza de que isso não tem a haver com suas desavenças?
O olhar fixo que a jovem manteve no Senhor de Rashmen, poderia ter intimidado a qualquer pessoa nos reinos, mas Volas o Urso, não era uma pessoa qualquer. Acostumado a batalhas de vida e morte desde sua juventude o bárbaro já havia encarado muitos homens antes e não se abalava facilmente. Sua expressão diante do olhar frio da bruxa não mudou em nada, e ele continuou aguardando pela resposta.
Ilza sabia que seu lorde não iria desistir do interrogatório, mas ela, como todos as hatrans que sabiam sobre a “discórdia”, não poderia comentar o assunto, nem para Volas que era o soberano de Rashmen. Por isso a sacerdotiza optou por uma saída estratégica, virando-se ela ia se retirar da murada, mas o corpanzil enorme de seu lorde interrompeu seu caminho.
- Você pretende sair sem responder minhas perguntas?
- Como já disse antes meu lorde, o que aconteceu aqui deve ser obra de nossos inimigos e as crises internas são resolvidas pelas hatrans. Eu agora devo me retirar e investigar pessoalmente o que aconteceu em nosso templo.
O lorde desta vez nada fez para impedir a saída da bruxa, pois esta atitude o fez perceber que algo grave estava acontecendo em Rashmen. Ilza sabia que sua fuga a teria denunciado ao Lorde de Ferro, mas haveria pouco o que fazer se o que ela acreditava que tivesse acontecido no templo se revelasse verdade.
Observando do alto da murada a comoção, Volas observou ao longe os portões da cidade sendo fechados. Uma atitude normal ante uma ameaça de invasão ou ataque. Mas para o lorde um pensamento preocupante imperava sua mente. De que adiantaria fechar os portões de sua amada cidade se cada vez mais se tornava claro que o perigo se encontrava dentro dela. Diferentemente da maioria do povo de Rashmen, Volas respeitava as bruxas mas não confiava cegamente nelas, algo estava errado e precisava ser descoberto.
Pressionando suas mãos enormes sobre a murada ele arrancou pedaços dela esmigalhando-os entre seus dedos, então ele observou mais uma vez os portões e sorriu. Em poucos dias novos jovens aspirantes a furiosos entrariam na cidade. Jovens ansiosos por aventuras e glórias.
Jovens puros, intactos das manipulações das bruxas de Rashmen.
Volas sorriu.
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