Os olhos dos primos cintilavam com raiva para o taverneiro, que puxava a canoa para margem da aldeia. Ambos viam claramente as peles esverdeadas que o taverneiro ocultava no interior da canoa e imaginavam estarrecidos o que ele havia feito com o seu prêmio angariado na caçada do dia do Dajema.
- Eu não acredito no que você pode ter feito pai. Sua inconformidade com meus desejos pode ser tão grande a ponto de você destruir o premio merecido por mim e Jekita no campo de honra ?
Jurimik teve vontade de esbofetear seu filho, tamanha foi a raiva que cresceu dentro dele, mas as ovações e chingamentos que ouviu da multidão ao seu redor, fez ele encolher os ombros e lembra-lo de que a situção fora criado por ele mesmo.
Ano após ano ele tentou convencer seu amado filho a trilhar outro caminho ao invés do das batalhas, mas foi vencido pelo espírito absolutamente igual ao do próprio taverneiro em sua juventude.
Mas o que mais doeu ao homenzarão foi ver o olhar de desprezo lançado a ele por sua sobrinha. Ela foi a última pessoa em Taporan que ele esperava olhar para ele daquele jeito. Era necessário desfazer o mal entendido logo.
- Toul espere... - mas antes que ele pudesse seguir com suas sentenças, suas palavras foram interrompidas pelo punho fechado e pesado de seu filho.
O soco forte e violento seria o suficiente para nocautear um urso, mas o taverneiro não era um homem comum. Moldado nos campos de batalhas e privações o forte golpe do filho foi muito mais doloroso para seu orgulho do que fisicamente.
Voltando vagarosamente o olhar para o jovem que estava sendo contido pela multidão, Jurimik lançou um olhar triste e cansado que lançou o jovem ao chão. Não preparado para o olhar vaziou do pai, Toul duvidou dos próprios sentimentos naquele momento.
Jekita, estava irada como seu primo, mas procurava manter a calma e a atitude de seu tio desconcertou-a tanto quanto seu primo.
O taverneiro indiferente as agressões morais provenientes de todos na aldeia se moveu para sua pequena embarcação e retirou dela o gibão e o cinturão. Segurando ambos no colo para que todos pudessem ver, ele falou com uma voz vazia desprovida de emoções.
- O cinturão é seu Jekita e o Gibão é seu meu filho, eles foram feitos com a pele do urso derrotado por vocês. Sinto muito por tudo isso.
Depositando cuidadosamente nos braços dos jovens desconcertados, o homem se virou calmamente e se afastou abrindo caminho como se estivesse passando em grama baixa.
Toul não conseguia tirar os olhos de seu gibão, ele não conseguia acreditar na beleza da bela armadura. Repentinamente como que acordando de um sonho ele meneou a cabeça e viu que se pai desaparecia entre as cabanas de Taporan. Percebendo seu erro e horrivelmente inconformado ele tentou alcançar seu pai, mas foi impedido pela multidão que ovacionava a armadura e insistia em ver o jovem usa-la.
Ciente de que eles não iriam deixa-lo em paz o jovem vestiu rapidamente o abrigo para que pudesse sair a procura de seu pai. Mas foi no momento em que a armadura se fez presente no corpo do jovem que ele percebeu o quão especial ela era.
O gibão se moldou ao corpo atlético de Toul como se fosse uma luva em uma mão. A sensação de usar a armadura era estasiante, ele sentia um vigor crescente que o deixava atordoamente bem, a sensação era absolutamente divina. Ele ouvira quando jovem sobre os dons de seu pai como tanoeiro mas não conseguia acreditar na habilidade do taverneiro agora que a experimentava.
Completamente maravilhada com a beleza de Espírito de Urso, Jekita usou seu cinturão de múltiplos bolsos e como a maioria do povoado não sentiu absolutamente nada de diferente, muito menos o cinturão possuía a beleza encantadora do gibão de Toul. Por fim Jekita deu de ombros, afinal ela era apenas a sobrinha era óbvio pra ela que seu tio apenas lhe dera um presente de consolação.
Mas quando o choque inicial da magnitude de seus presentes passou ambos os jovens abriram caminho entre a multidão e varreram Taporan em busca do taverneiro, mas o antigo guerreiro não encontrava-se mais a vista.
Inconformado com seu comportamento infantil e sentindo-se tão mal quanto nunca mais iria sentir-se na vida Toul correu pela aldeia e deu de cara com a porta fechada de sua cabana.
- Pai! Você esta ai dentro? Por favor abra a porta. Me desculpe, eu não sabia. – A voz de Toul estava cheia de arrependimento, ele começava a lacrimejar e estava visivelmente abalado.
- Tio, por favor abra, nós precisamos lhe falar. – A prima juntou-se aos apelos do jovem.
Durante minutos eles ficaram em uma cena lamentável se humilhando e gritando pelo nome do taverneiro, até que uma voz vinda das costas deles por entre a multidão os interrompeu.
- Bem eu abriria a porta com prazer depois de uma cena como estas, mas infelizmente fui buscar algumas coisas minhas na Casa do Lobo, portanto ainda não estou dentro de casa. Na verdade se ambos olharem bem a porta encontra-se trancada por fora e nossa tranca encontra-se escondida no lugar de sempre.
A voz de Jurimik, soou incrivelmente divertida e ele estava visivelmente comovido com a demonstração de arrependimento dos jovens primos. Aproximando-se deles ele os abraçou a ambos constrangendo-os perante a multidão que ovacionou.
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